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QUEM É VOCÊ NO INSTAGRAM?

Foto do escritor: Becky KorichBecky Korich

24.novembro.2021



Você, que passa horas deslizando o dedo na tela, bisbilhotando, se inspirando, invejando, desejando, desprezando, fingindo que acredita em toda a alegria fingida: é ruim, mas é uma delícia, não é?

Instagram é uma perda de tempo, a gente sabe. Instagram é tudo o que não é, e a gente sabe. Mas não importa, a gente sabe também, que vai acabar desperdiçando o nosso tempo deslizando o dedo, nos escondendo atrás do que mostramos de nós, acreditar no que vê, mesmo sabendo que não é.

Então a gente mergulha, como um peixinho, que morde a isca e fica preso na rede. E recebe uma infinidade de informações que processa com os olhos, sem precisar raciocinar, enquanto a inteligência artificial raciocina por nós e aproveita a nossa distração para calcular suas métricas digitais.

Tem de tudo no Instagram. Mas em meio a tantas diferenças de interesses e formas de comunicação, se destacam algumas características comuns entre os mais de um bilhão dos usuários da rede. Alguns exemplos:

Os Fantasmas: São discretos, não postam nada, não comentam nada. Não têm nem coragem de curtir. Por trás de um suposto desprendimento, adoram uma fofoca sem colocar a cara para bater. Se ocupam apenas em mexericar a vida alheia, só pelo prazer de espiar pelo buraco da fechadura.

Os Econômicos: Pontuais e objetivos, publicam somente coisas muito importantes, homenagens especiais, ou acontecimentos especiais. Querem impactar, por isso pensam, calculam e escrevem vários rascunhos até encontrar a fórmula perfeita.

Os Engajados: Seres superiores, são os modelos de comportamento da rede. Insistem em convencer os outros que não têm nenhum tipo de preconceito, apesar de achar um horror quem não tenha uma causa para lutar lutar. Ativamente engajados nas causas sociais da moda, emitem opinião sobre tudo e não perdem a oportunidade para embutir uma lição de moral, qualquer que seja o assunto.

Os Lindos e Felizes: Fazem do Instagram a sua própria Ilha de Caras. São especialistas em filtros e acreditam mais na imagem editada do que na própria imagem. São pessoas totalmente realizadas, família, profissão, viagens, amigos. Seguem um padrão de beleza. Corpos sarados, sobrancelhas desenhadas, sorrisos de porcelana, peles bronzeadas. A regra é que nenhum problema os afete, pois a obrigação é estar permanentemente feliz.

Os Naturebas: Quase monotemáticos, escrevem sobre natureza, animais e alimentos orgânicos. Gostam de postar nas redes (sociais) selfies deitados em redes (de balanço), tomando o cuidado de não olhar para a câmera, para parecerem mais naturais. São contra a extração de lítio, o mesmo que compõe a bateria dos celulares que usam para publicar os seus protestos.

Os Filósoficos: Têm sempre uma sacada genial. Resumem as ideias de Aristóteles e Platão em duas linhas. São tão positivos que, quando não intoxicam, nos provocam remorsos por nossas insatisfações e confusões existenciais. Adoram fazer lives, entrevistando-se mutuamente para corroborar as mesmas ideias.

Os Ricos: Usam e abusam de fotos em iates, Dubai e Castelos. Gostam de aparecer jantando em restaurantes chiquérrimos, onde gastam o valor de um carro para pagar a conta. Publicam muitas, muitas fotos. Afinal, para que serviria toda essa bella vita?

Os Obsessivos: São os escravos do algoritmo, não se permitem passar um dia sem aparecer. De cinco em cinco minutos conferem com ansiedade a quantidade de curtidas, ficam eufóricos ou deprimidos de acordo com o resultado. Qualquer coisa que fazem é razão para publicar na rede e, principalmente, vice-versa: fazem acontecer justamente para ter o que publicar. Se inscrevem na prova de corrida já pensando na foto com a medalha nos dentes; esperam o aniversário das amigas para postar as fotinhas separadas desde o começo do ano; mal conseguem curtir um belo pôr do sol, pois estão ocupados em clicar o melhor ângulo.

Os Verificados: O selinho azul é o sangue azul do Instagram. É o sonho secreto dos usuários. Para merecer esse título a pessoa tem que ter alguma relevância pública. Seja, portanto, competente ou criativo. E boa sorte.

Os LinkedIns: Só sabem falar de job. Usam o Instagram para vender o seu peixe, e ficam orgulhosos com os feedbacks, ou curtidas, que recebem. Exibem currículos invejáveis nas suas bios, principalmente se forem CEOs. Entre um meeting e outro, fazem do Instagram uma LinkedIn para divulgar seu business plan. Qualquer coisa que não tenha a ver com trabalho para eles é waste of time.

Os Engraçados: Cheios de memes, piadas, vídeos cômicos. Nada pode ser levado à sério. Quando não são péssimos, são ótimos.

E a gente se inspira, se esvazia, se vicia, se distrai, se informa, engana e se engana nesse incrível universo que a vida tenta imitar.


 

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