18.abril.2020

O significado de descobrir é encontrar o que por nós era desconhecido, escondido, descobrir novos territórios; passar a conhecer a solução de um problema, enigma, descobrir uma resposta.
Descobrir é diferente de aprender, é mais superficial, porém não menos importante. É intuitivo, como as primeiras experiências de um bebê com cada coisa nova na vida.
Em um mês de isolamento fiz muitas descobertas. A maioria delas banais, mas como todas as nossas descobertas, são dotadas de um poder desencadeante de entendimentos mais significativos.
Meus filhos descobriram que eu tenho alguns (tá, vários) cabelos brancos. Essa informação não é pouca coisa.
Eu descobri que para cozinhar não preciso ser master chef. Mas descobri, também, que não dá para inventar muito nas receitas. Fiz bons acertos e algumas barbaridades gastronômicas.
Descobri que jogar 15 minutos de Fortinite com meus filhos cria um vínculo incrível entre nós. Eu diria que é o oposto da clássica pergunta inútil do dia 'como foi a escola hoje?' que eu insisto fazer.
Descobri, talvez eu já soubesse, mas não a esse nível, que temos um presidente com maturidade emocional de uma criança de oito anos. Meu filho de dez anos também descobriu isso, sozinho mesmo, por suas próprias conclusões juntando tudo que via.
Descobri uma tranquilidade ímpar no meu marido em casa. O que está sendo uma fonte de paz para nós. Talvez ele tenha descoberto que para ser feliz, temos que ter uma dose de irresponsabilidade. Chamo isso de Bitachon.
Meus filhos descobriram que, até então conheciam o War como um jogo de estratégia (que difícil seria isso), é um jogo fácil, que conta com a sorte dos dados além, claro, da estratégia. Descobriram que existe um país (ou será Cidade?) chamado Dudinka no globo.
Descobri que cada dia aguento menos expressões politicamente corretas e lições de auto ajuda. Me corrói o estômago. Fobia. Conselhos humanitários, profecias de gurus, expressões que contenham as palavras mágicas empoderamento, sair-da-caixinha, auto-liderança, empatia, sororidade-social, processo-dusruptivo, além de conselhos incríveis como: Está estressado? Abrace uma árvore.
Meu marido descobriu que eu penso e faço mais coisas na vida além de encher o saco dele.
Descobri que do limão de faz a limonada. Muita água aromatizada por aqui. Limão, morango, gengibre, hortelã, laranja.
Meu filho descobriu que consegue sobreviver sem o Corinthians.
Descobri como é fácil dizer ‘estou com saudades’ nesse mundo remoto solitário. Tanta gente com saudades de mim. Hmm. Será?
Me descobri uma maníaca pela limpeza e organização da casa. Usando e abusando de potes e etiquetas organizadoras, sem contar os baldes de álcool 70% e água sanitária pulverizada. Descobri, também, muita sujeira de baixo dos tapetes, que eu julgava tão bem limpados.
Descobri novas manchas e rugas no meu rosto me vendo no Zoom.
Meus filhos descobriram que pode ser uma aventura um dormir no quarto do outro. E eu descobri que para eles era mais divertido ainda, eles não serem descobertos rindo e fazendo bagunça no quarto fechado às 2h da manhã.
Me descobri sendo mais liberal com os jogos eletrônicos e com o açúcar. Sabores e memórias mais livres.
Descobri músicas novas que me arrepiam. Spotify, eu te amo.
(Re)descobri o quanto são lindas e profundas as madrugadas.
Descobri que o ótimo nem sempre é bom, e ter o bom já é muito ótimo.
uma coisa que o isolamento faz bom kkkkkk
Quantas descobertas deliciosas! Descobri também novos sons, sabores, sorrisos e leituras como essa, tão leves e profundas...